Há como era doce a minha infância, eu era pequeno e nem sonhava em cozinhar, andava de pé no chão e com uma bola de capotão em baixo do braço, e quando eu via, lá vinha a minha mãe me mandando ir a mercearia que era logo ali. A lista de compras me dava e lá ia eu a mercearia do Sr. Tite, um turco de bigodes grandes e olhos arregalados para contar as moedas que naquele tempo eram os cruzeiros, a lista tinha um quilo de feijão, o quão do saco em meio ao armazém ele apanhava com um concha e colocava em um saco de papel, mais um item me lembro que comprávamos arroz que também ficava exposto no armazém num saco de uns 50 quilos e lá vinha o arroz com palha e até marinheiros, o arroz não era do tipo 1, ora lá tinha que escolher e muito bem e depois lavar mais ainda, já ouviu falar nisso, hoje tem gente que reclama do arroz tipo 1 embalado e pronto pra ir pra panela, e a farinha também neste sacos abertos e mais uma concha e o produto ia pro saco de papel vai saber que tipo era, e a balança num prato ele colocava o alimento ensacado e do outro uns pesos para equilibrar a balança, o óleo de lata e o leite de vaca em garrafas de vidro, atum em lata nem existia era sardinha mesmo da marca coqueiro, as linguiças defumadas penduradas secando, a carne secando ao vento era o charque, manteiga em lata e rapadura para adoçar o café. Bons tempos da padaria onde se comprava a bengala, nada como o pão francês de hoje em dia. O pão sovado com bastante açúcar no meio este só de final de semana a minha mãe comprava, tempos que não voltam mais. Ia me esquecendo da caderneta do Sr. Tite que anotava tudo para pagarmos no final do mês, meu doce predileto, eu me lembro até hoje quando naquelas tardes meu pai me dava dinheiro para comprar "Chokito", lembram do slogan "é leite condensado, caramelizado com flocos crocantes e coberto com o mais puro chocolate ao leite Nestlé", bons tempos em que as mercearias estavam lá. A infância passou rápido demais e a saudade das mercearias não se acabou.
Chef Marcio Lopes "sempre com vocês".
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