REVISTA NACIONAL DA CARNE
Uma Modesta Proposta
*Fernando Sampaio
Tenho uma modesta proposta para que a humanidade resolva seu problema de segurança alimentar e ao mesmo tempo contribua para a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.
Esta proposta consiste em adotarmos o canibalismo como dieta básica em todo o planeta. Comendo nosso semelhantes, preservaríamos outras espécies de nossa crueldade e contribuiríamos para uma drástica redução populacional, evitando mudanças climáticas por causa da pecuária e diminuindo a poluição e a demanda por recursos naturais.
O que vai acima é obviamente sarcástico (é preciso explicar isso hoje em dia), e foi inspirado em Jonathan Swift.
Em 1729, o autor irlandês escreveu um ensaio intitulado A Modest Proposal onde argumentava que seus conterrâneos pobres poderiam resolver seus problemas econômicos, sua fome crônica e seu crescimento populacional desenfreado se passassem a vender suas próprias crianças como comida para as classes mais abastadas.
Claro que ninguém ainda propôs o canibalismo como uma dieta sustentável, embora certas correntes do ambientalismo mais radical proponham abertamente que as pessoas parem de se reproduzir como forma de salvar o planeta ( http://www.vhemt.org/ ).
Mas desde que o ambientalismo e a onda politicamente correta transformaram o ato de comer carne em sinônimo de peso na consciência, o veganismo virou a dieta sustentável por excelência, e seus praticantes, apesar da deficiência nutricional, arvoram-se em seres moralmente superiores ao resto dos mortais.
Agora outras sugestões de dieta tem aparecido na tentativa de varrer a carne dos cardápios da humanidade, entre elas a que prega substituir a carne por insetos.
Recentemente, a própria FAO criou um programa de incentivo ao uso de insetos comestíveis como fonte de proteína na dieta de países subdesenvolvidos ( http://www.fao.org/forestry/65429/en/ ).
No site dos eventos TED Ideas Worth Spreading, o pesquisador holandês Marcel Dickens dá palestra sobre porquê comer insetos.
Aqui no Brasil, o Fantástico do dia 03/04 (sim, há sempre eco para bobagens na imprensa nacional) levou ao ar uma reportagem onde dizia que o consumo de insetos poderia resolver a crise mundial de alimentos. Na reportagem um outro cientista holandês, Arnold van Huis, ligado à FAO, diz que insetos são mais eficiente que bois, e que podem ser uma boa idéia para o Brasil. Diz ele que 15 produtores rurais holandeses já estão ganhando dinheiro com isso, vejam que maravilha.
Interessante que sejam holandeses, cujo consumo per capita apenas de carne de porco é de mais de 40kg por habitante por ano, e cuja produção polui seus solos e lençóis freáticos muito mais do que aqui, a recomendar insetos na dieta dos brasileiros.
Uma analogia aqui pode ser ilustrativa. Há um tempo atrás um colunista de um jornal paulistano reclamava ser um absurdo que as autoridades deixassem tantos carros serem vendidos ou licenciados na cidade de São Paulo, onde o trânsito é reconhecidamente caótico.
Ora, tantos veículos estão sendo vendidos porque devido ao crescimento econômico do país, milhares de pessoas que eram condenadas a andar a pé, de ônibus ou de bicicleta finalmente passaram a ter dinheiro para adquirir um veículo próprio e assim o fizeram.
A FAO diz que em várias regiões do planeta insetos são culturalmente aceitos como alimento. É preciso dizer que nessas regiões, da África, Ásia e América Latina, insetos passaram a ser consumidos por absoluta necessidade.
Hoje, com o crescimento econômico principalmente nos países em desenvolvimento, milhões de pessoas no mundo tiveram a oportunidade de começar a consumir carne ou de aumentar seu consumo.
E agora dizem: ah, mas comer carne não é sustentável... vocês deveriam comer insetos...
É um argumento preconceituoso e elitista, para não dizer fascista.
Não sei qual a solução para o trânsito em São Paulo, não é minha especialidade. Provavelmente um transporte público mais eficiente ajudaria.
Mas sei que para garantir segurança alimentar e preservação ambiental, a solução não está em comer insetos.
Está em maior eficiência pecuária, o que se consegue com ciência e tecnologia.
É em democratizar essa tecnologia que a FAO deveria concentrar seus esforços, não em modestas propostas onde nos tomam por imbecis.
*é Diretor e Coordenador de Sustentabilidade da ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes
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